Enquanto o governador do Rio Grande do Sul. Tarso Genro, destratava seu partido.......
Alta tensão no Jaburu
Irritado com críticas de aliados, o vice-presidente Michel Temer chegou a redigir uma nota anunciando o rompimento da parceria entre o PMDB e o PT.
Robson Bonin Quando recebeu a faixa presidencial das mãos de Lula, em 2011, a presidente Dilma Rousseff herdou um governo com popularidade nas alturas e uma oposição praticamente dizimada no Parlamento. Sua posse foi também o início de um projeto de poder ainda mais ambicioso. A aliança entre PT e PMDB. além de vitoriosa nas urnas, rendeu a ambos a soberania no papel de protagonistas políticos. Peemedebistas e petistas comandam o governo federal, o Congresso, administram dez estados e milhares de prefeituras país afora. Essa simbiose, porém, esteve por um fio. Em uma crise que por pouco não atingiu o ponto de ebulição, os dois partidos estiveram muito perto de um rompimento definitivo, com direito a troca de xingamentos, ameaças e uma inédita explosão de ira do vice-presidente Michel Temer - que chegou a anunciar aos conselheiros mais próximos a intenção de romper definitivamente a parceria com o governo. Foram oito horas de tensas negociações que envolveram a presidente Dilma Rousseff, dois ministros de estado e as lideranças dos partidos - e que atingiram o ápice com a redação de uma nota na qual os peemedebistas anunciavam a surpreendente decisão.
Disputas por espaço permeiam qualquer aliança política, e a do PMDB com o PT nunca fugiu muito da receita - até Michel Temer virar alvo direto de ataques. Chamado de "sabotador" por um integrante da cúpula nacional do PT, enquanto o governador do Rio Grande do Sul. Tarso Genro, destratava seu partido, o vice-presidente, conhecido pelo jeito cerimonioso, perdeu as estribeiras. Reunido no Palácio do Jaburu na manhã do dia 31 com seus conselheiros de primeira hora, o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco, e o ex-deputado Eliseu Padilha. Temer decidiu que a agressão dos petistas exigia uma resposta enérgica - e pública. Sentado à mesa, o grupo começou a elaborar uma nota oficial que respondesse ao governador petista. Enquanto Temer ditava, Padilha rascunhava o texto. O conteúdo do documento era explosivo. Em poucas palavras. Temer anunciava a ruptura da aliança com o PT caso Tarso Genro e o dirigente Markus Sokol não fossem prontamente desautorizados pela cúpula petista. "O PT que esteja à vontade. Se o que diz o governador do Rio Grande do Sul retrata a vontade do PT, é bom que o partido expresse logo, porque o PMDB saberá o que fazer - e seguirá o seu rumo", dizia a nota escrita por Temer.
A intenção expressa no texto não deixava dúvida. Afrontado publicamente por aliados, Temer lançava à mesa sua condição de segundo mandatário da República e exigia respeito a ele e ao PMDB. "Era uma resposta ao Tarso Genro e ao PT, para dizer que eles estão falando com o vice-presidente da República e com o maior partido do país", explica um dos interlocutores de Temer.
As conversas que desencadearam a crise na aliança começaram na segunda-feira 29 de julho, com a divulgação da fala do dirigente petista, após uma reunião extraordinária da direção da legenda, na sede do PT, em São Paulo. "Michel Temer é um sabotador porque sabotou a tentativa da presidente Dilma de realizar o plebiscito. Eu defendo a ruptura da aliança nacional com o PMDB", atacou Markus Sokol. "Se a bancada do PMDB continuar sujeita a interesses meramente fracionários e regionais, que estão travando projetos como os que mencionei, acho que o PMDB se torna mais um problema do que uma solução", completou depois o governador do Rio Grande do Sul.
O silêncio da cúpula petista e do Palácio do Planalto levou Michel Temer e seus conselheiros a concluir que o ataque tinha aval do governo - o chamado fogo amigo. "Se o PT rifar o Michel, vamos para os braços do Aécio, ele vira vice e ganha a eleição", ameaçou o deputado Eduardo Cunha, líder do partido. Nos bastidores, os auxiliares de Dilma Rousseff, já avisados da gravidade da crise, correram para conter os danos. O primeiro a ligar para Temer na esperança de apaziguar os ânimos foi o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que tentou, sem sucesso, minimizar o impacto das declarações dos companheiros. Temer, porém, continuou determinado a divulgar a nota de rompimento. Os petistas perceberam que não era blefe. Foi quando entrou em cena a própria Dilma Rousseff. Ela telefonou ao presidente nacional do PT, Rui Falcão. ordenando que ele desautorizasse as declarações dos colegas. Ato contínuo, o partido publicou em sua página um breve comunicado informando que, "para desfazer informações desencontradas veiculadas nos últimos dias, o PT vem a público reafirmar sua parceria governamental e aliança eleitoral prioritária com o PMDB". Assinado pelo próprio Falcão, o texto trouxe um adendo importante: "Além disso, (o partido) continua com a firme disposição de reeditar, em 2014, a chapa que nos levou á vitória em 2010, com a presidenta Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer". Temer ainda recebeu um telefonema do presidente do PT, desculpando-se pelo mal-entendido. A aliança sobreviveu, mas a tensão foi apenas represada.
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