Porto Alegre, 01 de Setembro de 2013
FHC e a primeira compra de apoio parlamentar
Perguntas que
gritam sem ser ouvidas pelos espíritos rasteiros, essas minhocas
ideológicas de extrema-direita que não se importam com corrupção, mas
odeiam políticas sociais e
querem os petistas na cadeias – o que alguns merecem mesmo – não só pelo
que fizeram de ruim, mas principalmente pelo que o governo fez de bom:
ProUni, bolsa-família, cotas, Minha Casa Minha Vida.
– Por que o mensalão mineiro continuar ser ter o mesmo tratamento do mensalão tucano?
– Por que a primeira compra de apoio parlamentar do Brasil pós-ditadura, a da escandalosa emenda constitucional para reeleger FHC, nunca foi a julgamento?
– Por que o processo do mensalão mineiro foi desmembrado,
remetendo-se alguns casos para a primeira instância, enquanto o do
mensalão petista foi todo para o STF de maneira a se poder aplicar uma
tese esdrúxula de ocasião, a da tal teoria do domínio do fato?
– O que é mais grave: comprar ou vender apoio parlamentar? O PT
comprou. Quem se vendeu? A direita, do PMDB ao PP e ao PTB. Por que o
polo comprador é mais enfatizado?
– Por que destacar essas contradições é visto como defesa de mensaleiros petistas?
– Por que não se percebe que isso é, como em 1954 e em 1964, pura
estratégia da direita para desqualificar a esquerda no poder como forma
de tentar retomar o controle do país?
– A direita adora dizer que o Brasil não começou em 2003 como
pensariam os petistas, salvo em corrupção. O PT teria inventado a
corrupção no Brasil tomando o poder de uma direita honesta?
– O nível intelectual dos que defendem essas contradições é
subterrâneo, ódio ideológico puro, macartismo no pior estilo anos 1950,
gente que mistura, muitas vezes, os piores valores reacionários:
homofobia, cultura da repressão, preconceitos de todos os tipos e,
paradoxalmente, uma defesa das virtudes morais que nem sempre pratica ou
não denuncia em relação aos seus.
Todos os mensalões devem ser condenados: do DEM, do PSDB, do PT, do PP, do PMDB, do PTB…
O mensalão petista é multipartidário.
O sistema político brasileiro precisa ser reformado.
Como disse o ex-governador Olívio Dutra, em entrevista ao Correio do Povo, o PT precisa ser sacudido.
Mas nenhuma reforma pertinente acontecerá enquanto as contradições não forem enfrentadas.
O ideológico fala da corrupção do outro, mas não da sua ou dos seus.
Não é a corrupção que o incomoda, mas o outro.
Quantos lacerdinhas vão falar do texto que segue?
Quantos vão ler o livro abaixo?
Quantos vão multiplicar nas redes sociais o que vem agora?
Se alguém não partidário como eu pode perguntar tudo isso com serenidade?
As Desventuras do Príncipe
Por Leandro Fortes – CartaCapital
“O livro mostra que FHC é um caso de crime continuado”
A obra chegou às livrarias no sábado 31, mas antes mesmo de sua
publicação tem causado desconforto no ninho tucano. Luiz Fernando
Emediato, publisher da Geração Editorial, responsável pela
edição, tem recebido recados. O último, poucos dias atrás, foi direto:
um cacique do PSDB telefonou ao editor para pedir o cancelamento do
livro e avisou que a legenda havia contratado um advogado para impedir a
publicação, caso o apelo não fosse atendido.
Tanto alvoroço deve-se ao lançamento de O Príncipe da Privataria
– A história secreta de como o Brasil perdeu seu patrimônio e Fernando
Henrique Cardoso ganhou sua reeleição, do jornalista Palmério Dória. O
título da obra faz alusão à alcunha de “príncipe dos sociólogos”,
sugestão de amigos do ex-presidente, e ao termo privataria, menção ao
processo de privatização comandado pelo PSDB nos anos 1990 e eternizado
por outra obra da Geração Editorial, A Privataria Tucana, de Amaury
Ribeiro Jr.
Há razão para os temores dos aliados de FHC. Na obra, Dória
reconstituiu um assunto que os tucanos prefeririam ver enterrado: a
compra de votos no Congresso para a emenda da reeleição que favorecia o
ex-presidente. E detalha o “golpe da barriga” que o deixou refém das
Organizações Globo, em especial, e do resto da mídia durante seus dois
mandatos.
A maior novidade é a confirmação da identidade do Senhor X, a fonte
anônima responsável pela denúncia do esquema de compra de votos para a
emenda da reeleição. O ex-deputado federal Narciso Mendes, do PP do
Acre, precisou passar por uma experiência pessoal dolorosa (esteve entre
a vida e a morte depois de uma cirurgia) para aceitar expor-se e
contar novos detalhes do esquema.
A operação, explica Mendes no livro, foi montada para garantir a
permanência de FHC na Presidência e fazer valer o projeto de 20 anos de
poder dos tucanos. Para tanto, segundo o ex-parlamentar, foram
subornados centenas de parlamentares, e não apenas a meia dúzia de
gatos-pingados identificados pelo jornalista Fernando Rodrigues, da
Folha de São Paulo, autor das reportagens que apresentaram em 1997 as
gravações realizadas pelo Senhor X, apelido criado pelo repórter para
preservar a identidade do colaborador, então deputado do antigo PPB.
Os mentores da operação que pagou 200 mil reais a cada deputado
comprado para aprovar a reeleição, diz o Senhor X, foram os falecidos
Sergio Motta, ex-ministro das Comunicações, e Luís Eduardo Magalhães,
filho de Antonio Carlos Magalhães e então presidente da Câmara dos
Deputados. Em maio de 1997, a Folha publicou a primeira reportagem com a
transcrição da gravação de uma conversa entre os deputados Ronivon
Santiago e João Maia, ambos do PFL do Acre. No áudio, a dupla
confessava ter recebido dinheiro para votar a favor da emenda. Naquele
momento, o projeto tinha sido aprovado na Câmara e encaminhado para
votação no Senado.
À época, a oposição liderada pelo PT tentou instalar uma CPI para
apurar as denúncias. Mendes resume os acontecimentos a Dória e ao
jornalista Mylton Severiano, que participou das entrevistas com o
ex-deputado em Rio Branco: “Nem o Sérgio Motta queria CPI, nem o
Fernando Henrique queria CPI, nem o Luís Eduardo Magalhães queria CPI,
ninguém queria. Sabiam que, estabelecida a CPI, o processo de
impeachment ou no mínimo de anulação da emenda da reeleição teria
vingado, pois seria comprovada a compra de votos”.
E assim aconteceu. A denúncia foi analisada por uma única comissão
de sindicância no Congresso, que apresentou um relatório contrário à
instalação de uma CPI. O assunto foi enviado ao Ministério Público
Federal (MPF), então sob o comando de Geraldo Brindeiro. O procurador
fez jus ao apelido de “engavetador-geral”, nascido da sua reconhecida
leniência em investigar casos de corrupção do governo FHC. O MP nunca
instalou um processo de investigação, a mídia nunca demonstrou o furor
investigatório que a notabilizaria nestes anos de administração do PT e o
Congresso aprovou a emenda, apesar da fraude.
O Príncipe da Privataria tenta reconstituir os
passos da história que levou uma repórter da TV Globo em Brasília, a
catarinense Miriam Dutra, a um longo exílio de oito anos na Europa.
Repleta de detalhes, a obra reconstituiu o marco zero dessa trama,
“nalgum dia do primeiro trimestre de 1991”, quando o jornalista Rubem
Azevedo Lima, ao caminhar por um dos corredores do Senado, ouviu gritos
do gabinete do então senador Fernando Henrique Cardoso. “Rameira,
ponha-se daqui pra fora!”, bradava o então parlamentar, segundo relato
de Lima, ex-editorialista da Folha de S.Paulo, enquanto de lá saía a
colega da TV Globo, trêmula e às lágrimas. A notícia de um suposto
filho bastardo não era apenas um problema familiar, embora não fosse
pouco o que o tucano enfrentaria nessa seara. A mulher traída era a
socióloga Ruth Cardoso, respeitada no mundo acadêmico e político. O
caso extraconjugal poderia atrapalhar os planos futuros do senador.
Apesar de se apresentar como um “presidente acidental”, em um tom de
desapego, FHC sempre se imaginou fadado ao protagonismo na vida
nacional.
Escreve Dória: “Entra em cena um corpo de bombeiros formado por
Sérgio Motta, José Serra e Alberico de Souza Cruz – os dois primeiros,
cabeças do “projeto presidencial”; o último, diretor de jornalismo da
Rede Globo e futuro padrinho da criança”. Motta e Serra bolaram o plano
de exílio da jornalista, mas quem tornou possível a operação foi Souza
Cruz, de atuação memorável na edição fraudulenta do debate entre
Collor e Lula na tevê da família Marinho às vésperas do segundo turno. A
edição amiga, comandada diretamente por Roberto Marinho, dono da
emissora, e exibida em todos os telejornais do canal, levaria o
“caçador de marajás” ao poder. Acusado de corrupção, Collor renunciaria
ao mandato para evitar o impeachment.
Miriam Dutra e o bebê foram viver na Europa e o caminho político de
FHC foi novamente desinterditado. Poucos anos depois, ele se tornaria
ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco, surfaria no sucesso do
Plano Real, a ponto de renegar a importância do falecido ex-presidente
na implementação da estabilidade monetária no País, e venceria a
eleição de 1994 no primeiro turno.
Por muito tempo, apesar de o assunto circular nas principais rodas
políticas de Norte a Sul, Leste e Oeste, imperou nos principais meios
de comunicação um bloqueio a respeito do relacionamento entre o
presidente e a repórter. Há um pressuposto não totalmente verdadeiro de
que a mídia brasileira evita menções à vida particular dos políticos,
ao contrário das práticas jornalísticas nos EUA e Reino Unido. Não
totalmente verdadeiro, pois a regra volta e meia é ignorada quando se
trata dos adversários dessa mesma mídia.
No fim, o esforço para proteger FHC mostrou-se patético. Só depois
da morte de Ruth Cardoso, em 2008, o ex-presidente decidiu assumir a
paternidade do filho da jornalista. Mas um teste de DNA, feito por
pressão dos herdeiros do tucano, provou que a criança não era dele.
Dória entrevistou inúmera personalidades, entre elas o
ex-presidente da República Itamar Franco, o ex-ministro e ex-governador
do Ceará Ciro Gomes e o senador Pedro Simon, do PMDB. Os três, por
variadas razões, fizeram revelações polêmicas sobre FHC e o quadro
político brasileiro. Há outras declarações pouco abonadoras da conduta
do ex-presidente. A obra trata ainda do processo de privatização, da
tentativa de venda da Petrobras e do plano de entrega da Caixa
Econômica Federal e do Banco do Brasil ao setor privado. “O livro
mostra que FHC é um caso de crime continuado”, resume o autor.
fonte: http://www.correiodopovo.com.br
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